"Escreve-lhe ainda:
Não imagina tudo o que há no céu, é preciso tê-lo visto para crer. Olhe, as... mas não lhe direi já como se chamam.
Embora pareçam muito pesadas e a ocupar quase todo o céu, grandes como são, pesam menos do que um recém-nascido.
Chamamos-lhe nuvens.
É verdade que delas sai água, mas não é apertando-as nem triturando-as. Isso seria inútil porque elas têm muito pouca.
Mas, à força de ocuparem extensões e extensões, larguras e larguras, e também profundidades e profundidades, e de se fazerem emproadas, conseguem enfim deixar cair algumas gotinhas de água, sim, de água. E ficamos todos molhados. Fugimos, furiosas por termos sido apanhadas, porque ninguém sabe quando é que elas vão largar as suas gotas; às vezes ficam vários dias sem largar nenhuma. E não valia de nada ficarmos em casa à espera."
Henri Michaux, Antologia, trad. Margarida V. de Gato, Lisboa: Relógio D'Água, 1999, pp. 163-164.
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