"Segundo uma personagem de Iris Murdoch, existem anjos, anjos caídos, deuses-animais, espíritos soltos que vagueiam no vazio. Quanto aos anjos, se não existissem Rilke tê-los-ia criado, como ao seus Deus, «quero espelhar-te sempre em corpo inteiro»; dos anjos caídos, além do que aprendi no «Livro de Henoch», há um outro conhecimento, mais íntimo, de que tive consciência em ver o seu rosto. Um rosto que provoca um arrepio gelado, e depois o pressentimento de um mundo mais antigo, porque tem algo que nos faz recordar o divino (Platão), ou a queda, o caos e as trevas - não consigo imaginar tanta escuridão concentrada num outro ser."
Ana Teresa Pereira, O Ponto de Vista dos Demónios, Lisboa: Relógio d'Água, 2002, p. 19.