Friday, November 14, 2025

A MEMÓRIA DE UM FASTO


 

"Minha alma é obelisco corroído
Ou apenas - quem sabe? - inacabado, 
A memória dum fasto já esquecido 
Ou dum outro talvez antecipado.

Só sei que lhe não sei qual o sentido;
E o erro foi, assim, ter procurado
O que tenha talvez desaparecido
Ou não fosse jamais concretizado.

Na encruzilhada, os viandantes raros,
Se os olhos para ela erguem, avaros, 
Não conservam, sequer, a sua imagem.

Mas erguida, sem nexo, longa e triste,
Ela sabe que é, sente que existe
Na dor com que ensombrece esta paisagem."



Reinaldo Ferreira, Poemas, Lisboa: Vega, 1998, p. 157. 

No comments: