"Mas o mais interessante de todos estes textos literários é, sem dúvida, uma passagem do conto em verso A Corte do Paraíso (La cour de paradis):
Por isso vos digo no dia das Almas
E depois do Dia de Todos-os-Santos
Tenham todos a certeza:
Conta-nos a história
De que as almas do Purgatório
Repousam durante estes dois dias
Mas as que não tiverem perdão
E forem condenadas pelos seus pecados
Tenham todas a certeza
De que não terão repouso nem permanência.
A ligação entre a festa de Todos-os-Santos e a Comemoração das Almas (1 e 2 de Novembro) está fortemente marcada, e os laços destas duas solenidades com o Purgatório nitidamente sublinhados. A originalidade destes versos reside sobretudo no seguinte: se o sabat infernal, o descanso hebdomadário dos condenados do Inferno é negado, em compensação aparece a ideia de uma trégua de dois dias no Purgatório, em vez da ideia de Jacques de Vitry de um repouso dominical. O Purgatório «infernizou-se» decididamente a ponto de ser transferido para ele o tema de um repouso imaginado para a geena."
Jacques Le Goff, O Nascimento do Purgatório, trad. Maria Fernanda Gonçalves de Azevedo, 2.ª ed., Lisboa: Editorial Estampa, 1993, p. 384.

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