"Completo estou eu de natureza,
em plena tarde de áurea madurez,
alto vento no verde trespassado.
Rico fruto recôndito, contenho
o vasto elementar em mim (a terra,
o fogo, a água, o ar) o infinito.
Jorro luz: douro o lugar escuro;
ressumo olor: a sombra cheira a deus;
emano som: a amplidão é funda música;
filtro sabor: a mole bebe minha alma,
deleito o tacto de toda a solidão.
Sou tesouro supremo, desprendido,
com densa redondez de pura íris,
do íntimo da acção. E sou-o todo.
O todo que é o cúmulo do nada,
o todo que se basta e é servido
pelo que todavia é ambição."
Juan Ramón Jiménez, Antologia Poética, trad. José Bento, Lisboa: Relógio D'Água, 1992, pp. 138-139.
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