Friday, May 16, 2014

INFINITO



"- Rafael - dizia-lhe eu algumas vezes - porque não escreves? - Ora essa! - respondia ele. - Porventura escreve o vento os seus cânticos sobre estas folhas sonoras das árvores? Escreve o mar os gemidos das suas praias? Nada do que se acha escrito é belo; o que há de mais divino no coração do homem nunca daí sai. O instrumento é de carne; a nota é de fogo. O que se há-de fazer? Entre o que se sente e o que se exprime,  - acrescentava ele com tristeza- há a mesma distância que entre a alma e as vinte e quatro letras dum alfabeto, isto é, o infinito. Queres traduzir numa flauta de cana a harmonia do universo?"


Lamartine, Rafael, Lamego: Edições Crisos, 1946, pp. 12-13. 

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