Thursday, January 15, 2015

A VERDADE



"A morte é a verdade e a verdade é a morte

Tão contente de vento, ó folha que nomeio
como quem à passagem te colhesse, 
palavra de que tu, ó árvore, dispões para vir até mim
do alto da tua inatingível condição

De muito longe vinda, inviável lembrança
indecisa nas mãos ou consentida
por alguma impossível infância
E a alegria é uma casa recém-construída

Face melhor de todos nós, ó folha 
dos álamos nocturnos e antigos visitados pelo vento, 
no calmo outono, o dos primeiros frios, sais
do ângulo dos olhos, acolhes-te ao poema
como no alto mês de maio a flor imóvel do jacarandá

Não há outro lugar para habitar
além dessa, talvez nem essa, época do ano
e uma casa é a coisa mais séria da vida"


Ruy Belo, O Problema da Habitação, 4ª ed., Lisboa: Presença, 1997, p. 25. 

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