"As evocações da mãe deram-lhe a noção das suas próprias origens, dum passado. Mas o presente é feito de instantes imensuráveis, decorrentes, arrancados ao nada do futuro, para o qual a gente avança às arrecuas, cego, o remador de costas para a proa!, só se apercebendo da realidade do Tempo como retrospecto, alguma coisa que se enrola para trás à maneira das paisagens quando se viajam e a cada instante se congela em passado. De repente, porém, a marcha acelera-se, as águas do rio avolumam-se e adensam-se como ao acercar-se do açude, da queda tumultuosa... Então, sente-se tomado duma leve angústia, o coração bate-lhe de exaltação e anseio, sem que ele saiba porquê nem para quê."
José Rodrigues Miguéis, A Escola do Paraíso, 4ª ed., Lisboa: Editorial Estampa, 1981, p. 371.
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