"Às vezes a noite faz pinturas
na minha pele, há uma asa grande
como a criação que desce no arco
dos meus sentidos, uma pulsação
ferindo por entre os cabelos
como se fosse o próprio tempo.
Vou continuar deitado na minha cova
a sul do mundo, vou continuar frio
por dentro da chuva quando é domingo,
o tédio barricado nos quintais
como no ninho de um bicho.
Vou estar parado outra vez
à velocidade de quinhentos mil cavalos.
Não há mal nenhum nisso."
Rui Pires Cabral, "Geografia das Estações", in Morada, Lisboa: Assírio & Alvim, 2015, p. 15.
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