"Du Roy olhava para ela com interesse e perguntava a si próprio que desgosto, que dor, que desespero, podiam torturar aquele coração. Rebentava de miséria - isso era visível - e tinha talvez um marido que a moía com pancada ou um filho doente. Murmurou: «Pobres criaturas. Há tantas que sofrem assim!» Apoderou-se dele uma cólera contra a natureza implacável. Reflectiu depois que aqueles pobres diabos, pelo menos, acreditavam haver quem se interessava por eles lá em cima e que a sua identidade se encontrava inscrita nos registos do céu com as colunas do «Dever» e do «Haver»: «Lá em cima? Onde?»"
Guy de Maupassant, Bel-Ami, trad. Jaime Brasil, Lisboa: RBA Editores, 1995, p. 200.