"Jorge ria ao pensar naquele encontro. Dizia para si: «As igrejas servem-lhe para tudo. Consolam-na de ter casado com um judeu, dão-lhe uma atitude de protesto no mundo político, um ar de pessoa distinta na sociedade e um abrigo para os seus encontros galantes. O que é o hábito de se utilizarem da religião como duma coisa que serve para tudo! Se está bom tempo, é uma bengala; se faz calor, é um guarda-sol; se chove, é um guarda-chuva, e se a pessoa não sai, deixa-o à porta, no bengaleiro. Há centenas delas assim que se importam tanto do bom Deus como da primeira camisa que vestiram, mas não querem ouvir dizer mal dele, embora o tomem em certas ocasiões como alcoviteiro. Se lhes propuserem ir a uma hospedaria, consideram isso uma infâmia, mas parece-lhes muito simples ter encontros amorosos aos pés dos altares.»"
Guy de Maupassant, Bel-Ami, trad. Jaime Brasil, Lisboa: RBA Editores, 1995, p. 199.
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