"Velejei num barquinho rio acima, e aproei à ribanceira, donde se avistava o arruinado e já em parte desfigurado conventinho de extintos franciscanos. À sombra dum arco manuelino, que havia sido a portaria do arrasado templo, meditei nos frades, no convento, no refúgio dos desamparados do mundo, nas lápides profanadas que mãos ímpias arrancaram de sobre as cinzas de muitos corações, extintos com o segredo de sublimes torturas. Meditei, e maldisse a civilização, que fechara os áditos da paz quando a guerra sacudia as suas serpes mais inexorável; maldisse a ilustração, que aluira a enfermaria dos empestados do vício, quando a peste ardia mais devoradora. A minha angústia era imensa, porque não podia dispensar-me de Deus, e dos homens, que apontavam o caminho do melhor mundo."
Camilo Castelo Branco, Amor de Salvação, Porto: Livraria Chadron, s.d., p. 76.
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