"Alguns iam pedir a Deus e aos seus pastores que os recebessem e lhes explicassem o que não estava certo. Entretinham-se a ensinar o padre-nosso às crianças nos orfanatos. Depressa atingiam o rubro, tomando a humilhação pela prece, a ruína do homem pela sua santidade. Isto permitia aos mais inteligentes entregarem-se a uma espécie de poesia. Deus continuava o seu velho ofício, deixando-se acomodar a todas as receitas. Nascimento de bons deuses, aparições de santos arrancados aos poetas que prefeririam ser tomados por funâmbulos de Notre-Dame. Imensa pureza, refúgios, indulgências. Poetas abriam escritórios de conversão, Rimbaud era atirado, apesar dos seus curas, para serem aceites pela juventude, explicavam que a oração e a poesia são faces de um acto único. Este Janus bifronte permitia todas as declarações sobre a pureza e a impureza da poesia, sobre a inspiração, a conversão e a inversão."
Paul Nizan, Aden-Arábia, trad. José Borrego, Lisboa: Editorial Estampa, 1991, p. 67.


























