"Enjeitada e diminuida, a Isaura envergonhava-se de ter um dia oferecido tudo ao amor, mesmo sabendo que o amor era longe de bom, mesmo sabendo que era sexo e espera, a Isaura sentia que esperara demasiado e por ilusão, por estupidez. Estava sempre sozinha, e para sempre era quase uma impossibilidade, por isso pensava que a sua vida se encurtaria para lhe tirar todo e qualquer direito de ser de outro modo, de ser outra. A Maria, calada, já não lhe berrava nem instruía de coisa nenhuma. A Maria não pensava muito na Isaura. Viviam cada uma para seu lado, a coincidirem em momentos muito definitivos que, numa sobrevivência instintiva, as punha como mãe e filha à mesma mesa e mais nada. De certo modo, ambas pareciam esgotadas do tempo prematuramente. Como esses mortos cujas almas se esqueceram de partir. Iguais."
valter hugo mãe, O filho de mil homens, Carnaxide: Editora Objectiva/Alfaguara, 2011, pp. 61-62.
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