João Negreiros, Silêncio, Braga: Edições TUM, 2007, p. 11." ALINE - Não... eu não queria mas quero. (Estende o braço para ele, ele dá-lhe a garrafa e ela bebe, dando um jeito à roupa que estava descomposta. Ele fica de costas.) Obrigada... muito obrigada. (Pausa.) Não dizes: de nada? Não falas? (Tira os headphones dos ouvidos e volta-se para ela para falar, mas antes que o faça, ela fala primeiro.) Adoro os que não falam. Não fazem barulho. O mundo devia ser dos mudos, dos silenciosos, dos que sussurram, dos que sofrem calados, dos que andam descalços para não dançar flamenco, dos que voam para não pisar o soalho que range, dos que da televisão só querem o botão que diz "mute", que é mudo em inglês. E um inglês mudo consegue ser ainda mais distinto: bebe chá sem o ouvirmos sorver, come scones sem o sentirmos mastigar. O mundo devia ser desses: dos que mordem pela calada sem magoar. (...)"
Monday, September 12, 2011
OS DESEJOS DO SILÊNCIO
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