"Singra o navio. Sob a água clara
Vê-se o fundo do mar, de areia fina...
Impecável figura peregrina,
A distância sem fim que nos separa!
Seixinhos da mais alva porcelana,
Conchinhas tenuemente cor de rosa,
Na fria transparência luminosa
Repousam, fundos, sob a água plana.
E a vista sonda, reconstrói, compara.
Tantos naufrágios, perdições, destroços!
Ó fúlgida visão, linda mentira!
Róseas unhinhas que a maré partira...
Dentinhos que o vaivém desengastara...
Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..."
Camilo Pessanha, Clepsydra, ed. crítica de Paulo Franchetti, Lisboa: Relógio d'Água, 1995, p. 111 [at. ort.]
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