Tuesday, April 23, 2013

CONTEMPORÂNEO


"Só pode dizer-se contemporâneo quem não se deixa cegar pelas luzes do século e consegue apreender nelas a parte da sombra, a sua obscuridade ínfima. Mas com isto não respondemos ainda à nossa pergunta. Porque deveria interessar-nos conseguirmos perceber as trevas que provêm da época? Não será porventura o escuro uma experiência anónima e por definição impenetrável, qualquer coisa que não se dirige a nós e não pode, portanto, dizer-nos respeito? Pelo contrário, o contemporâneo é aquele que percebe o escuro do seu tempo como qualquer coisa que, mais do que toda a luz, se endereça directa e singularmente a ele. É contemporâneo quem recebe em pleno rosto o feixe de treva que provém do seu tempo."
  Giorgio Agamben, Nudez, trad. Miguel Serras Pereira, Lisboa: Relógio D'Água, 2010, p. 23.

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