"Com tudo isso, meu caro poeta, o momento presente é triste, é amargo. Sentimo-nos tão deslocados! Parece-nos este mundo tão pouco o nosso mundo! Quase que temos a consciência de uma gradual fossilização, da transformação lenta da nossa carne e do nosso sangue numa substância estranha, morta, mineral, sentimos que alguma coisa nos soterra e a pouco e pouco nos reduz ao estado de seres paleontológicos, representantes dum período já obsoleto nas sucessivas estratificações históricas da humanidade."
Antero de Quental, "Carta a António Molarinho de 26 de agosto de 1889", in Cartas II, org. Ana Maria Almeida Martins, Lisboa: Universidade dos Açores/Editorial Comunicação, 1989, p. 953.