Tuesday, August 13, 2013

PASSEIO

 


"Ficou a contemplar melancolicamente o vale, a língua à procura das sementes de figo entre os dentes, com as pequenas e tenazes moscas sempre a agarrarem-se à cara. Ocorreu-lhe que um passeio pelo campo era uma espécie de resumo da própria passagem pela vida. Nunca se tem tempo para saborear os pormenores; diz-se: outro dia, mas sempre com a convicção oculta de que cada dia é único e final, de que nunca haverá regresso, de que nunca haverá outra vez."
 

Paul Bowles, O Céu que nos Protege [The Sheltering Sky], trad. José Agostinho Baptista, 2ª ed., Lisboa: Assírio & Alvim, 2004, p. 133.

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