Tuesday, August 13, 2013

PAR




"«Por favor não fales disso agora.» Havia agonia na sua súplica. «Tudo o que dizes aqui em cima assusta-me. Está a escurecer, o vento sopra, não consigo suportar isso.
Port sentou-se, rodeou-lhe o pescoço com os braços, beijou-a, afastou-se um pouco e olhou-a, voltou a beijá-la, afastou-se de novo, repetindo várias vezes a sequência- Havia lágrimas nas faces de Kit. Ela sorriu desamparadamente quando ele as secou com os dedos indicadores.
«Sabes que mais?», perguntou Port com grande fervor. «Acho que ambos temos medo da mesma coisa. E pela mesma razão. Nunca fizemos por entrar verdadeiramente na vida. Estamos agarrados ao exterior por tudo aquilo que possuímos, convencidos de que vamos cair à próxima pancada. Não é verdade?»"


Paul Bowles, O Céu que nos Protege [The Sheltering Sky], trad. José Agostinho Baptista, 2ª ed., Lisboa: Assírio & Alvim, 2004, pp. 101-102.

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