"Ó Galateia, mais alva que a pétala do níveo ligustro,
mais florida do que prados, mais esbelta que o alto amieiro,
mais brilhante que vidro, mais brincalhona que o cordeirinho,
mais macia que conchas polidas constantemente pelas ondas,
mais agradável que no Inverno o sol, que a sombra no Verão,
mais majestosa que a palmeira, mais vistosa que alto plátano,
mais reluzente que o gelo, mais doce que a uva madura,
mais suave que as penas do cisne, e também que o requeijão,
e, se não fugires, mais formosa que um jardim bem regado.
E também, Galateia, mais casmurra que bezerro não domado,
mais dura que um carvalho velho, mais falsa do que as ondas,
mais inconstante que ramos de salgueiro e vinha de uva branca,
mais inamovível que os rochedos, mais impetuosa que um rio,
mais soberba que o aplaudido pavão, mais violenta que o fogo,
mais espinhosa que silva, mais brutal que ursa que deu à luz,
mais surda que o mar, mais desapiedada que serpente pisada,
e, coisa acima de tudo o resto que eu gostaria de te poder tirar,
mais veloz quando foges, não tanto como o cervo acossado
pelo sonoro ladrar, mas antes do que os ventos e a veloz brisa."
Ovídio, Metamorfoses, trad. Paulo Farmhouse Alberto, 2ª ed., Lisboa: Cotovia,2010 llivro XIII, vv.789-807, pp. 332-333.
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