ORCO
"Sei às vezes que o corpo é uma severa
massa oca, com dois orifícios
nos extremos:
a boca, e aos pés a dança com a coroa de labaredas
- a cratera de uma estrela.
E que me atravessa um protoplasma
primitivo,
uma electricidade do universo,
uma força.
E por esse canal calcinado sai
um ruído rítmico, uma fremente
desarrumação do ar, o vento sibilante,
vento:
o som onde começa tudo - o som.
Completamente vivo.
Herberto Helder, Ou o poema contínuo, Lisboa: Assírio & Alvim, 2004, p. 382.
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