A NOITE (VIGÍLIA)
"A noite não é nada,
Como se diz a um doente.
Se a alma é estiolada,
Sabe lá o que sente!
Ser o avesso do dia,
Bem na intenção de Deus,
Que verbo nos põe na boca?
Que «não» jogado a que lago
Põe toda a luz em fuga
E o candeeiro na mesa?
A pedra divina toca
Nossa pouca certeza
E logo a noite se enruga.
Acudam aos acordados:
São os que a noite não quer;
Dêem-lhes dia logo.
Sonhar é como ter fogo:
Só quando a estrela der."
Vitorino Nemésio, Poesia (1935-1940), Lisboa: Bertrand Editora, 1986, p. 221.
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