"Vamos na vida, como o cavaleiro de Dürer, entre o Diabo e a Morte. Só se vive na consciência, e a consciência só apreende morte. Quer isto dizer que toda a vida consciente é vida morta? Não, de certo: mas lento e lento, um naufragar contínuo, naufrágio de marujo-poeta, em que se prolongam sempre os horizontes. Sabia-o bem Antero, que o sentido da vida é o sentido da morte. E os que, como nós, rezavam os Sonetos no colégio, souberam-no de cor, como os simples dizem orações, bem antes de em desespero o aprenderem. Quanto ao Diabo, o outro camarada da gravura, esse, como eu o vejo, é a ausência de lei, a arritmia: o contingente, o acaso, o acidental."
António Patrício, D. João e a Máscara, Lisboa: Livraria Sam Carlos, 1972, p. 11.
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