Wednesday, December 31, 2014
OS MANTOS DO FRIO
"Traz-me o frio
Traz-me os mantos do frio
Os horrores necessários do frio
O comércio que eu recusei a vida inteira
Mas que é o único possível neste mundo
Traz-me as túnicas os sabres as cotas de malha
Do frio que eu neguei quarenta e nove vezes
Às dez da noite na Estação das Neves Eternas
Traz-me o frio
O deus mutilado do frio
Em que hei-de transformar-me lentamente
De pálpebras cerradas sangue pisado
Sem compaixão nenhuma
Sem amor nenhum de espécie alguma
Fortaleza inviolável
Castelo sepulcral definitivo
E altíssimo
Inacessibilíssimo
Sol inteiro consumido
No gelo
Sem uma lágrima
Uma única lágrima"
Alberto de Lacerda, Oferenda - I, Lisboa: IN-CM, 1984, p. 312.
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