Sunday, February 1, 2015

SECUNDA PORTA



"Com seus olhos estáticos na cumeeira
a casa olha o homem. 
A intervalos
lhe estremecem os ouvidos, 
de paredes sensíveis, 
discernentes:
agora é o amor, 
agora é a injúria. 
punhos contra a parede, 
pânico. 
Comove Deus
a casa que o homem faz para morar, 
Deus 
que também tem os olhos
na cumeeira do mundo, 
Pede piedade a casa por seu dono
e suas fantasias de felicidade. 
Sofre a que parece impassível. 
É viva a casa e fala."


Adélia Prado, "Oráculos de Maio", in Com Licença Poética - Antologia, org. Abel Barros Baptista, Lisboa: Cotovia, 2003, p. 114. 

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