"Gaspari observava. Já não se tratava da ravina das brincadeiras dos rapazes, nem dos medíocres cumes atarracados, nem da estrada que subia o vale, nem do hotel, nem do campo de ténis vermelho. Viu, por baixo de si, despenhadeiros sem fim, diferentes de qualquer recordação, que se precipitavam para mares de florestas; viu mais longe o trémulo revérbero dos desertos e mais longe ainda outras luzes, outros sinais confusos, indicando o mistério do mundo. E aqui à sua frente, do alto da ribanceira, estava uma sinistra fortaleza; muralhas sombrias a suportavam e os telhados em equilíbrio estavam coroados por caveiras, esbranquiçadas pelo sol, que pareciam rir-se. O país das maldições e dos mitos, as solidões virgens, a última verdade concedida aos nossos sonhos!"
Dino Buzzati, "O Burguês Enfeitiçado", in Pânico no Scala, trad. Carlos Leite, Lisboa: Cavalo de Ferro, 2007, pp. 53-54.
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