"É preciso estar cego
ou ter nos olhos aparas de vidro,
cal viva,
areia a ferver,
para não ver a luz que brota em nossos actos,
que ilumina por dentro a nossa língua,
a nossa palavra diária.
É preciso querer morrer sem um sinal de glória e de alegria,
sem participação nos hinos futuros,
sem ficar na lembrança dos homens que hão-de julgar o passado
sombrio da Terra.
É preciso querer já em vida ser passado,
obstáculo sangrento,
coisa morta,
seco olvido."
Rafael Alberti, Antologia Poética, selec. e trad. Albano Martins, Porto: Campo das Letras, 1998, p. 47.
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