Sunday, March 24, 2019

TERREIRO



"Entre veneno e cura, 
eis-nos vassalos do tamborim
para o imemorial castigo da treva. 
Os nossos corpos, dois vocábulos
que se estudam. Dancemos, pois, 
para que entre nós se acerte a pronúncia, 
que o terreiro sempre foi dialecto
do suor, pano estendido que por vezes
nos cinge e reserva, para logo
uma pata descurada
nos apartar com um esgar. 
A tarântula rói já a um canto
a sua noite de esperanças, 
seu alimento de pó. 
Há braços que sobejam e regressam
Enquanto esta aflição durar, estaremos
a salvo da guilhotina do sol."


Vasco Gato, Cerco Voluntário, Porto: Cadernos do Campo Alegre, 2009, p. 9.

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