"Naquele tempo havia uma árvore solitária, uma cerejeira solitária, uma árvore solitária,
que bebia na margem do rio Eufrates.
A fúria do suão arrancou-a pela raiz e amputou-a de ramos,
o Eufrates sobre ela as vagas precipitou.
Uma mulher, devota da palavra de An,
uma mulher, devota da palavra de Enlil,
recolheu-a com as suas mãos e levou-a a Unug,
para o sagrado jardim de Innana a levou.
A mulher não plantou a árvore com as mãos, plantou-a com os pés,
a mulher não irrigou a árvore com as mãos, irrigou-a com os pés.
Disse ela: «Quanto mais até ser um trono esplendoroso em que me possa sentar?»
Disse ela: «Quanto mais até ser um puro leito em que me possa deitar?»
Antes de cinco anos, [dez anos transcorreram,]
tanto a árvore espessara, nem o córtice podia fender-se.
Nas raízes, uma Serpente-Que-Ignora-Esconjuros fizera o seu ninho,
nos ramos, o pássaro de Anzu chocara a sua ninhada,
no tronco, um Súcubo edificara a sua casa.
A donzela que ri de coração cheio,
a sagrada Innana, como chorava ela!"
Épico de Gilgames, tábua XII, trad. Francisco Luís Parreira, Lisboa: Assírio & Alvim, 2017, p. 158.
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