"Todos conhecemos dos sonhos o terror das portas que não se fecham. Em termos exactos, são as portas que parecem estar fechadas sem o estarem. Apercebi-me deste fenómeno de forma potenciada num sonho em que ia acompanhado por um amigo e subitamente me apareceu um fantasma à janela do rés-do-chão de uma casa à nossa direita. E à medida que íamos avançando ele acompanhava-nos do interior de todas as casas. Atravessava todas as paredes e permanecia sempre à mesma altura. E eu via tudo isso, apesar de ser cego. A travessia que fazemos das Passagens é também, no fundo, um destes caminhos de fantasmas em que as portas cedem e as paredes se abrem."
Walter Benjamin, As Passagens de Paris, trad. João Barrento, Lisboa: Assírio & Alvim, 2019, p. 536.
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