"Há ânsias de voltar, de amar, de não ausentar-se
e há ânsias de morrer, combatido por duas
águas unidas que jamais hão-de istmar-se.
Há ânsias de um beijo enorme que amortalhe a Vida,
que acaba na áfrica de uma agonia ardente,
suicida!
Há ânsias de... não ter ânsias, Senhor;
a ti aponto-te o dedo deicida:
há ânsias de não ter tido coração.
A primavera volta, volta e partirá. E Deus,
curvado em tempo, repete-se, e passa, passa
carregando a espinha dorsal do Universo.
Quando as têmporas tocam seu lúgubre tambor,
quando me dói o sonho gravado num punhal,
há ânsias de ficar plantado neste verso!"
César Vallejo, Antologia Poética, trad. José Bento, Lisboa: Relógio D'Água, 1992, p. 37.
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