Wednesday, October 20, 2010
NA VÃ TRISTEZA AMBIENTE
"Meus olhos apagados,
Vede a agua cahir.
Das beiras dos telhados,
Cahir, sempre a cahir.
Das beiras dos telhados,
Cahir, quase a morrer...
Meus olhos apagados,
E cançados de ver.
Meus olhos, afogai-vos
Na vã tristeza ambiente.
Cahi e derramae-vos
Como a agua morrente.
Na cadeia os bandidos presos!
O seu ar de contemplativos!
Que é das feras de olhos acesos?...
Pobres os seus olhos captivos...
Passeiam mudos entre as grades.
Parecem peixes num aquario.
Campo florido das saudades,
Porque rebentas tumultuario?
Serenos. Serenos. Serenos.
Trouxe-os algemados a escolta...
Estranha taça de venenos,
Meu coração sempre em revolta!
Coração, quietinho, quietinho!
Porque te insurges e blasphesmas?
Pss... Não batas... Devagarinho...
Olha os soldados, as algemas."
Camilo Pessanha, Clepsydra, ed. Paulo Franchetti, Lisboa: Relógio D'Água, 1995, pp. 92-93.
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