Wednesday, February 29, 2012

EROSÃO


"Tinha tanto receio de aborrecer as pessoas que evitava contradizê-las, e assim cada uma adoptava o Renoir da sua preferência, na certeza de que o Renoir mais íntimo considerava que tal querela era conversa vã. Porém, um dia, depois de ter suportado uma demonstração, demasiado longa para o seu gosto, da inexistência de Deus, disse ao orador: «Acho que, se tivesse de escolher entre o senhor e os padres, escolhia os padres.» O outro protestou, pensando que o meu pai estava a brincar. Mas Renoir continuou: «Ao menos os padres têm uma vestimenta própria. É mais honesto! Assim, quando vejo um, fujo. Se o senhor quer ser pregador, também devia vestir um hábito. Assim já ficávamos todos prevenidos!»"

Jean Renoir, Pierre-Auguste Renoir, meu pai, trad. Francisco Agarez, Lisboa: Bizâncio Editora, 2005, p. 126.

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