Agustina Bessa-Luís, Alegria do Mundo - I, Lisboa: Guimarães Editores, 1996, p. 243."Eu às vezes digo que os profetas são gente dura de coração. Cristo não os amou; sabia que o quadro de terror que eles pregavam correspondia a uma impotência para se conhecerem em paz. Eram canas agitadas pelo vento; a terra parecia-lhes abominável, mas há só uma coisa abominável - é aquela que sujeita o espírito da terra pelo terror, e exige frutos ao escravo, bondade ao tímido e generosidade ao débil. Quando se repercute do pânico sem haver mais do que histeria de opção e um bom pretexto para seguir a imaginação e abandonar a norma, é porque a sociedade, de qualquer maneira, está debilitada. O pânico é uma antecipação da consciência. Acredita-se em videntes quando o conflito já se verificou e já participámos no seu processo. Uma Mademoiselle Lenormand não teria êxito se não correspondesse a uma exibição da fraude colectiva que depunha a ideia para emancipar a credulidade. E o cometa Halley não faria estremecer a França medieva, se nos espíritos não estivesse evidente o fim do império de Carlos Magno. Nada é um presságio se não é uma vontade. Nós, que devemos a vida à ruína duma estrela, à queda dum fragmento fixado a um sistema solar, porque receamos perdê-la na modesta perseverança dessa memória? Afinal, só restam 36 sociedades a serem inventadas. "A desgraça é variada" - diz Poe - e vem quase sempre só."
Friday, February 3, 2012
PROFETAS E ABOMINÁVEL
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