Raul Brandão, As Ilhas Desconhecidas, Lisboa: Quetzal, 2011, p. 144."Conservo dos jardins da cidade a impressão dum calor abafado, mornaço, duma sombra fechada, dum silêncio religioso e de um passarinho a cantar... Esta solidão com árvores abandonadas (eu ando sempre na ponta dos pés dentro dos grandes jardins, porque comunica logo comigo uma alma estranha ali encantada e presente) fixou-se-me para o resto da vida. As casas são sempre as mesmas casas, os homens os mesmos homens de toda a parte. Os jardins não. Nem os jardins nem o convento da Esperança, de que também não esqueço mais a torre enorme e maciça, construída para a eternidade, e as janelas tão gradeadas que metem medo. Mais forte, mais pesado que uma prisão, oprime o peito e tira o ar. Esta impressão talvez a sentisse Antero, porque foi aqui, num banco encostado à muralha, que, depois de olhar para todos os lados sem poder fugir, se libertou da vida."
Sunday, August 5, 2012
A ILHA DESCONHECIDA 1
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