"Acontecia com a jovem Maria Pascoal, submersa numa espécie de oceano profundo, deslocar-se nessa dimensão que pertence aos peixes antes do aparecimento do homem na terra. Um entendimento por meio de ondas sonoras, nada que a palavra possa substituir. "E criou Deus os grandes monstros das águas." Aqueles e outros sobre os quais foi destinado o homem dominar. Mas ele não teve poder absoluto sobre os abismos, porque lá não vigorava lei alguma. Eram as trevas, sem noite e dia a separá-las; as trevas unicamente. Os monstros das águas que não vieram à superficie vivem lá, eternamente. É com eles que o homem não tem pacto algum, e só a espécie rara dos criadores, monstros como eles, conseguem ir ao fundo das águas e reconhecer o contorno desses enormes corpos que fazem ferver as águas. Não é pelo efeito das fases da Lua que as águas fervem, mas pelo respirar dos monstros das águas, que Deus criou no quinto dia."
Agustina Bessa-Luís, Um Cão que Sonha, 3ª ed., Lisboa: Guimarães Editores, 1998, pp. 117-118.
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