Saturday, April 5, 2014

LOBO BRANCO




"Era o lagareiro quem dava as novidades.
- E o Inácio, não sei se já saberá?, matou a mulher. 
- O quê?! Mas porquê? 
- Diz que foi o Lobo Branco. 
Um dos pastores comentou em voz baixa:
- Lá isso, foi verdade. 
- Vocês sempre acreditam em cada uma! Essa é das tais patranhas que não cabem na cabeça de ninguém.
- Mas, ó patrão, como é que eu o vi e fiquei variado, que já toda a gente descorçoava de mim, e fiz uma espera ao Tocha, que foi uma sorte a escorva estar molhada?
- Variado és tu de nascença. Qual Lobo Branco?! Pode ser que ande por aí algum, mas é um lobo como os outros. 
- Ah!, patrão! será: mas oxalá que nunca lhe apareça. 
- Oxalá que apareça quando eu vá preparado para lhe tirar a pele, que dá uma boa gola ali para a Gertrudes. 
- Cruzes! Abrenúncio!
E a velha, benzendo-se, fugiu para um canto. O Lobo Branco era o fantasma de toda a serra. Diziam que quem o via ficava possesso do espírito mau. E quando o julgavam desaparecido, lá voltava como um grande cão manso de que os homens fugiam."


Branquinho da Fonseca, "O Lobo Branco", in Caminhos Magnéticos, Lisboa: Portugália Editora, 1967, pp. 83-84. 

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