"Percorrera vários quilómetros pelas ruas, e sentia a úlcera varicosa a latejar. Pela segunda vez em três semanas que não aparecia ao fim da tarde no Centro Comunitário: atitude arriscada, pois sem dúvida que o número de presenças no Centro estava cuidadosamente controlado. Em princípio, um membro do Partido não dispunha de tempo livre, e nunca estava sozinho a não ser na cama. Partia-se do princípio de que quando não estivesse a trabalhar, a comer ou a dormir estaria a participar nalgum tipo de divertimento colectivo: era sempre um tanto ou quanto perigoso fazer algo que sugerisse gosto pela solidão, até mesmo passear sozinho. Havia para isso uma palavra em novilíngua: proprivida, que significava individualismo e excentricidade."
George Orwell, Mil Novecentos e Oitenta e Quatro, trad. Ana Luísa Faria, 3ª ed., Lisboa: Edições Antígona, 1999, p. 88.
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