"Estava em pé, tinha uma rosa vermelha na mão e olhava as raparigas da aldeia, que dançavam sob um grande choupo de folhagem nova. E enquanto olhava, enquanto pesava os pós e os contras, porque as queria todas, porque o seu coração não podia escolher, ouviu atrás de si um riso sonoro, como água fresca saindo das entranhas da terra. Voltou-se e viu a dirigir-se a ele, com todos os seus ornamentos, anéis de bronze nos tornozelos, braceletes, brincos nas orelhas, sandálias encarnadas e os cabelos soltos, como se fora uma fragata ao vento, a filha única do rabino, do irmão de seu pai, Madalena. O espírito do jovem perturbou-se. «É aquela que eu quero», gritou. «É aquela que eu quero», e estendeu a mão para lhe oferecer a rosa. Mas no momento em que estendeu a mão, duas garras pousaram sobre a sua cabeça, duas asas frenéticas bateram por cima dele e sentiu que lhe apertavam dolorosamente as fontes. Deu um grito estridente e tombou de rosto contra a terra, escumando. Então, a sua pobre mãe cobriu-lhe o rosto com o lenço, ergueu-o nos braços e, esmagada pela vergonha, partiu e levou-o com ela."
Nikos Kazantzakis, A Última Tentação de Cristo, trad. Jorge Feio, Lisboa: Círculo de Leitores, 1988, p. 31.
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