"Eu, pelo contrário, tendo visto a bela figura daquela filha da Terra, daquele anjo loiro, sonhava com ela dia e noite e tinha a impressão, ao ajoelhar-me diante do ícone de madeira enegrecida na nossa igreja, quando o corista murmurava orações numa língua antiga e eslava e enquanto o padre no altar erguia as suas mãos magras aos céus, de que o ícone avermelhado e triste de Nossa Senhora assumia contornos cada vez mais brancos, o seu rosto apagado e quase indiscernível tornava-se como que soprado com prata rosada, o cabelo coberto por um véu bordado a ouro parecia ondular-se em tranças longas e desordenadas, loiras como o outro, os olhos apagados pelo tempo pareciam brilhar como duas flores azuladas, e os seus lábios sagrados, pálidos e fechados, pareciam tornar-se rosados, murmurando palavras; as pregas vermelhas do seu vestuário tornavam-se brancas como lírios perante os meus olhos. Na igreja, em lugar de Nossa Senhora, eu via, por entre as minhas lágrimas amargas de amor, aquela imagem querida do meu coração, Poesis."
Mihai Eminescu, O Génio Vazio, trad. Monica Cozacenco, Lisboa: Mybooks, 2012, pp. 58-59.
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