CORREM
"Correm turvas as águas deste rio,
Que as do Céu e as do monte as enturbavam;
Os campos florescidos se secaram;
Intratável se fez o valem, e frio.
Passou o Verão, passou o ardente Estio;
Uas cousas por outras se trocaram;
Os fementidos Fados já deixaram
Do mundo o regimento ou desvario.
Tem o tempo sua ordem já sabida;
O mundo não; mas anda tão confuso,
Que parece que dele Deus se esquece.
Casos, opiniões, natura e uso
Fazem que nos pareça desta vida
Que não há nela mais que o que parece."
Luís de Camões, Lírica, Lisboa: Editores Reunidos/RBA Editores, 1996, p. 72.
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