Sunday, June 5, 2016

SAUDAÇÃO




"Saúda a hora, esse fugidio ar dos minutos, 
como quem, convertido à fonética do silêncio, 
soçobra na linguagem autista do poema. 
Os pulmões expiram para longe o hálito
dos anos e a memória alastra pelo papel
como uma assinatura. Este continente, 

lugar imposto no gráfico da tua vida, fixa-o, 
prestes a erguer-se no ar como morada de exílio, 
na lenda que é já a visão da tua íris estriada. 
Com o nível do sangue a latejar na garganta
escreve, sob a luz dos revérberos, a despedida
as cerimónias crepusculares do velho mundo."


Paulo Teixeira, Inventário e Despedida, Lisboa: Caminho, 1991, p. 11. 

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