Friday, June 3, 2016

DERRAMADA



"Derramadas foram as taças sobre a Terra. 

Estremeci do seu murmúrio primeiro, 
do seu frémito depois, da sua convulsão. 
As palavras que ouvia eram como calhaus
rolados, seixos que dão à praia pela manhã. 

Entram na vossa alma secretamente. 

Chorei por vós nesse dia. Piedade. 

Porque amei vossas pegadas e as cicatrizes 
na vossa carne, o tão calado testemunho. 
Perguntareis: como amar as pegadas
de quem já não vive?

Amei o que foi vosso um dia. Por isso chorei."


Paulo Teixeira, Patmos, Lisboa: Caminho, 1994, p. 43. 

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