DERRAMADA
"Derramadas foram as taças sobre a Terra.
Estremeci do seu murmúrio primeiro,
do seu frémito depois, da sua convulsão.
As palavras que ouvia eram como calhaus
rolados, seixos que dão à praia pela manhã.
Entram na vossa alma secretamente.
Chorei por vós nesse dia. Piedade.
Porque amei vossas pegadas e as cicatrizes
na vossa carne, o tão calado testemunho.
Perguntareis: como amar as pegadas
de quem já não vive?
Amei o que foi vosso um dia. Por isso chorei."
Paulo Teixeira, Patmos, Lisboa: Caminho, 1994, p. 43.
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