Friday, October 21, 2016

ILUMINADO


"Anto - E, quando me traziam o chá à cama, afastava os lençóis, calçava os chinelos, vinha bebê-lo achegado à janela, para que de fora me detectassem, vulto claro afuselado, iluminado por dois círios. Era a hora do meu triunfo, momento de beleza máxima, por cuja posse de alguns minutos nenhum poeta hesitaria em ceder o talento e a glória. Caminhavam, para além da vidraça, os que iam para o trabalho e, vendo-me assim, comentava que era o santo, ou o diabo, ou simplesmente, a criatura nova."

Mário Cláudio, Noites de Anto, Lisboa: edições rolim, 1988, p. 67. 

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