Monday, October 10, 2016

IMPASSES



"Um arrepio de volúpia percorreu-lhe o pescoço e as costas quando o cozinheiro se retirou. Chegou até a espreguiçar-se como um cão velho. Era dele, dele!, aquela enorme casa, um mundo de recantos e desníveis, de portas e postigos, de passagens e escadas, de corredores e impasses, por onde se podia, se quisesse, andar livremente, cosido às paredes como um espião ou todo-poderoso como um fantasma, onde se podia abrir todas as portas, deitar-se em todas as camas, repousar em todos os sofás, refrescar-se em todas as casas de banho, olhar para o seu feio corpo em todos os espelhos."


Paulo Varela Gomes, Hotel, Lisboa: Tinta-da-China, 2016, p. 47. 

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