Tuesday, February 28, 2017
FULMINADO
"Fulminado o seu senhor, brotou uma labareda
no fundo dos vales escuros e rochosos da montanha
que o viram cair."
Hesíodo, Teogonia, 859-861, trad. Ana Elias Pinheiro e José Ribeiro Ferreira, 2ª ed., Lisboa: IN-CM, 2014, p. 73.
OS DIAS
"Estes são dias de grande utilidade para os que habitam sobre a terra;
os demais caem no meio, indiferentes, sem conduzir nada,
cada um aconselha o outro, mas poucos os conhecem.
E destes um dia faz de madrasta e outro é mãe."
Hesíodo, Os Trabalhos e Dias, 822-825, trad. Ana Elias Pinheiro e José Ribeiro Ferreira, 2ª ed., Lisboa: IN-CM, 2014, p. 124.
Thursday, February 23, 2017
VISIONAR
"Tudo se passa como se, perante a imagem fotográfica, a visão empírica se desdobrasse numa visão onírica, análoga a isso a que Rimbaud chamava vidência, e não de todo estranha ao que os videntes chamam ver (nem mesmo, talvez, à plenitude que os «visionários» atingem através do olhar): uma segunda visão, como é costume dizer-se, uma visão que, por último, viesse revelar as belezas ou os segredos ignorados da primeira. Certamente que não foi por acaso que os técnicos sentiram a necessidade de inventar, para preencher a insuficiência do verbo ver, o verbo «visionar»"
Edgar Morin, O Cinema ou o Homem Imaginário, trad. António-Pedro Vasconcelos, Lisboa: Moraes Editores, 1970, p. 23.
Wednesday, February 22, 2017
ABERTO
"O estudo da imagem-reflexo levado a efeito no precedente capítulo conduziu-nos a um dos dois pólos da magia: ao duplo. Deteve-se esse estudo no momento em que a imagem aparece como espelho fiel, sem se ter transformado ainda sob o influxo do desejo, do temor ou do sonho. Ora, nem só de sombras e fantasmas é povoado o universo da magia; é, por essência, um universo aberto a todas as metamorfoses. Tudo o que é fantástico tem, no fundo, que ver com o duplo e com a metamorfose."
Edgar Morin, O Cinema ou o Homem Imaginário, trad. António-Pedro Vasconcelos, Lisboa: Moraes Editores, 1970, p. 68.
Tuesday, February 21, 2017
ZÉNITE
"É nesse lugar que as almas experimentam a alegria suprema, pois as almas a que chamamos imortais, uma vez que atingiram o zénite, são tomadas de um movimento circular e podem contemplar as realidades que se encontram sob a abóbada celeste."
Platão, Fedro, 247b-c, trad. Pinharanda Gomes, 6ª ed., Lisboa: Guimarães Editores, 2000, p. 61.
Monday, February 20, 2017
LISO
"De certo modo, o «real» surge como contingência absoluta, e, portanto, como acidente, interrompendo os «automatismos de repetição», perturbando o curso das coisas, esburacando o «liso» da mathesis projectada sobre a experiência. A contraposição clássica entre «natureza» e «cultura» fundava-se na necessidade de «interiorizar» o «de-fora», que é o mesmo que controlar o «acontecer» do acontecimento. Estamos no momento em que tal contraposição parece ter entrado em crise irremediável, apesar de nunca se falar tanto de «cultura» como hoje."
José A. Bragança de Miranda, Teoria da Cultura, 2ª ed., Lisboa: Edições Século XXI, 2007, p. 96.
Sunday, February 19, 2017
EXISTÊNCIA
" - Bebe! - diz-me a razão pura. - Os gregos criam que os deuses lhes tinham dado o vinho para lhes permitirem esquecer a miséria da existência. Lembra-te também do que disse Heine.
Recordo-me bem das palavras desse judeu ardente: «Com um último suspiro, tudo acaba: a alegria, a tristeza, o macarrão, o teatro, as tílias, os bombons de framboesas, o poder das relações humanas, o cavaco, o ladrar dos cães e o champanhe».
- A tua luz nítida e branca produz-me náuseas - digo à razão pura. - Tu mentes.
- Porque te digo uma verdade forte de mais, - riposta ela troçando.
- É isso, infelizmente! A existência não tem nenhuma lógica."
Jack London, Memórias de um Bebedor, trad. Campos Lima, Lisboa: Editorial Inquérito, s.d., p. 278.
Saturday, February 18, 2017
DISPOSTO
"400. Neste ponto, sinto-me disposto a lutar contra moinhos de vento, porque não posso dizer aquilo que realmente pretendo dizer."
Ludwig Wittgenstein, Da Certeza, trad. Maria Elisa Costa. Lisboa: Edições 70, 2000, p. 113.
Wednesday, February 15, 2017
SEGURANÇA
"Afirmámos que a experiência enquanto efeito de constituição permanente, enquanto algo constituído, é efeito de um processo que os modernos procuraram dominar inteiramente. Tal intenção prossegue um desejo milenar de segurança que está por trás do nosso esforço de categorizar o mundo, esforço esse que se sublima em «filosofias» e «teorias» de todo o género."
José A. Bragança de Miranda, Teoria da Cultura, 2ª ed., Lisboa: Edições Século XXI, 2007, p. 88.
Tuesday, February 14, 2017
SERAPIDI OPTIMO MAXIMOQUE
"Não enfraqueças, não me retires esta parte de amar com que me distinguiste, e faz por me lembrar sempre para que eu louve, de cada vez melhor, a Beleza."
Platão, Fedro, 257a-b, trad. Pinharanda Gomes, 6ª ed., Lisboa: Guimarães Editores, 2000, p. 80.
Monday, February 13, 2017
FOTOGRAMA
"O tempo, em curso irresistível e incessante, arrasta na sua onda todas as coisas criadas e lança-as nas profundezas da obscuridade, indiferente a que elas mal sejam dignas de menção ou pelo contrário sejam notáveis e importantes, e assim, como diz o trágico, «à escuridão arranca todas as coisas para nascerem e a todas as coisas nascidas envolve a noite»."
Ana Comnena, Alexíada, in Fernanda Espinosa, Antologia de Textos Históricos Medievais, 3ª ed., Lisboa: Sá da Costa, 1981, p. 84.
Sunday, February 12, 2017
FORMICELLA
"Assim rezava o Lobo de Gubbio, com a sinceridade da sua alma selvagem. E como sempre que se reza sinceramente, não sabia sequer o que pedia. Foi ouvido. E foi esta a razão por que sofreu tantos males que devem portanto ser contados."
Raymond Léopold Bruckberger, O lobo milagreiro, trad. Jorge de Sena, Lisboa: Livros do Brasil, s.d., p. 30.
Saturday, February 11, 2017
ANSEIO
"Em primeiro lugar, põe-se a questão de saber porque é que aquilo
que alguém deseja é de imediato representado pela mente, tal e qual.
Será que os simulacros obedecem à nossa vontade,
e, ao mesmo tempo que desejamos, nos ocorre a imagem,
quer o nosso coração anseie pelo mar, pela terra ou pelo céu?"
Lucrécio, Da Natureza das Coisas, IV, 781-783, trad. Luís Manuel Gaspar Cerqueira, Lisboa: Relógio D'Água Editores, 2015, p. 237.
Friday, February 10, 2017
ASCENSO
"Eu dir-te-ei coisas que penso boas para ti, grande louco de Perses:
a miséria, podes colhê-la, e com abundância,
facilmente; o caminho é plano e habita mesmo ao lado.
Mas diante do Mérito colocaram o suor os deuses
imortais; longa e íngreme é a senda que leva até ele,
árdua no início, mas quando se chega ao cimo,
torna-se acessível em seguida, por difícil que seja."
Hesíodo, Os Trabalhos e Dias, 286-292, trad. Ana Elias Pinheiro e José Ribeiro Ferreira, 2ª ed., Lisboa: IN-CM, 2014, pp. 104-105.
Thursday, February 9, 2017
ALTURA
"Antes é do agir que, em acto, provêm toda as orientações possíveis. A cultura é, acima de tudo, um modo de articular, integrar e totalizar tudo o que, existindo em estado de dispersão e fragmento, caracteriza a nossa situação, num momento em que o projecto historicista chegou ao fim, sem ter aparecido nenhum substituto à altura."
José A. Bragança de Miranda, Teoria da Cultura, 2ª ed., Lisboa: Edições Século XXI, 2007, p. 69.
Wednesday, February 8, 2017
CANSAR
"Macbeth - Eu vos conjuro a responder-me por aquilo que professais, sejam quais forem os meios usados. Ainda que se desencadeiem os ventos em luta contra as igrejas, ainda que as nuvens espumantes confundam e devorem a navegação, ainda que faça pilhas que abatam os castelos sobre aqueles que os habitam e os palácios e as pirâmides desabem sobre os seus fundamentos, ainda que se revolvam todas as sementes da vida até que a própria destruição se canse, respondei ao que vos pergunto."
William Shakespeare, A Tragédia de Macbeth, trad. João Palma-Ferreira, Lisboa: Livros do Brasil, 1987, p. 149.
Tuesday, February 7, 2017
FONTE
"Macbeth - Vossa é a desgraça e não o sabeis. Parou a mola, a cabeça, a fonte do vosso sangue e a própria origem dele também parou."
William Shakespeare, A Tragédia de Macbeth, trad. João Palma-Ferreira, Lisboa: Livros do Brasil, 1987, p. 93.
Monday, February 6, 2017
BARLEYCORNER
"O bêbedo ordinário rola facilmente para a valeta, mas que terrível provação para o outro, sustentando-se direito, bem seguro em ambas as pernas, e a concluir que em todo o universo só existe para ele uma única liberdade: a de apressar o dia da sua morte! Para um tal homem, essa hora é a da razão pura (de que falaremos noutro lugar), em que ele sabe que só pode conhecer a lei das coisas - nunca a sua significação. Hora perigosa, durante a qual os seus pés se firmam no caminho que conduz ao túmulo.
Tudo é nítido aos seus olhos. Todas as suas ascensões ilusórias para a imortalidade não são mais que os terrores de almas dominadas pela ideia da morte, e três vezes malditas pelo poder de imaginação. Elas não possuem o instinto da passagem para a morte; falta-lhes a vontade de morrer quando a hora soa para elas. Iludem-se a si próprias querendo enganar a morte para ganhar um futuro pessoal, abandonando os outros animais às trevas do túmulo ou ao ardor devorador do forno crematório. Mas o nosso homem, nesse momento em que julga friamente as coisas, sabe que essas almas são logradas e o são por elas próprias. O fim é igual para todos. Não há nada de novo sob o Sol, nem sequer essa puerilidade pela qual suspiram as almas fracas: a imortalidade."
Jack London, Memórias de um Bebedor, trad. Campos Lima, Lisboa: Editorial Inquérito, s.d., pp. 36-37.
Sunday, February 5, 2017
VENDAVAIS
"Banquo - Há na terra ilusões como no mar e essas eram ilusões. Por onde desapareceram elas?
Macbeth - No ar; e o que parece ter formas funde-se como o hálito no vento. Melhor seria que tivessem ficado."
William Shakespeare, A Tragédia de Macbeth, trad. João Palma-Ferreira, Lisboa: Livros do Brasil, 1987, p. 46.
Saturday, February 4, 2017
PARADOXOS
"Na verdade, toda a dificuldade assenta no paradoxo de a cultura ter vindo a afirmar-se, no nosso século, como um domínio «autónomo» e circunscrito (em temos nacionais, europeus e outros), e, simultaneamente, como garantia de totalização da experiência. Pressupõe-se, assim, que ser culto implica uma qualquer capacidade de apreender a totalidade e, correlativamente, que a cultura é essa totalidade. Círculo vicioso que terá sempre de ser quebrado."
José A. Bragança de Miranda, Teoria da Cultura, 2ª ed., Lisboa: Edições Século XXI, 2007, p. 20.
Thursday, February 2, 2017
GLAMIS
"1.ª Feiticeira - Quando nos encontraremos de novo? Será durante a trovoada, à luz do relâmpago, ou debaixo de chuva?"
William Shakespeare, A Tragédia de Macbeth, trad. João Palma-Ferreira, Lisboa: Livros do Brasil, 1987, p. 31.
Wednesday, February 1, 2017
TEMPOS MODERNOS
"O homem justo e tenaz no seu propósito,
em sua firme mente não se perturba
com o furor dos cidadãos impondo a justiça
nem com o vulto do ameaçador tirano
nem com o Austro, o inquieto senhor do revolto Adriático,
nem com a poderosa mão do fulminante Júpiter;
e se o céu em pedaços sobre ele cair,
impávido o hão-de atingir suas ruínas."
Horácio, Odes, III. 3, trad. Pedro Braga Falcão, Lisboa: Cotovia, 2008, p. 183.
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