Thursday, January 10, 2019
ALEGORIA
"Rompendo a cerca que na forma
o gosto lhe destina, o lagarto
arrasta-se pela parede, manchando
de baba o véu da noiva que serve
de ecrã às imagens que se desprendem
da retina. Representações e mistério,
diz o crítico, da forma nunca
dissipam a ignorância ou a dúvida.
Uma vez lido, no poema ergue-se
uma teoria de escombros de que
o olhar dissipou toda a bruma.
Devastação interior por que
começa a teoria, sempre presa
às deambulações de um olho
que do fundo da forma a fita.
Deposto sobre a mesa, o manjar
consiste em frutos cujas raízes
anómalas crescem das fissuras
por onde, na frase, entra o crepúsculo.
Que sorte a paisagem ser interior...
Porque se uma flor nos distrai,
o ofídio, rente à teoria, escava
o fundo a ruína até atingir
o ponto na tela em que
aos nossos próprios olhos
se torna indesejado o fruto."
Théodore Fraenckel, Iluminuras, s.l.: douda correria, 2018, s.p.
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