"Depois de Deus, foi a árvore - a Mãe verde - que fez o homem; que o nutriu aos seus peitos; que o embalou no seu regaço; que, com a música dos seus ninhos, o ensinou a cantar e a chorar. Nas primeiras idades, nas primitivas civilizações - eu bem sei - o homem adorou a árvore, construiu no meio dos bosques os seus templos brancos, sagrou os loureiros, os carvalhos, os ciprestes, povoou a floresta dos seus deuses, - faunos hirsutos, silvanos risonhos, dríades e amadríades nuas, cujos corpos brancos rebolavam voluptuosamente na relva fresca. Mas os deuses passam depressa - que seria de nós se assim não fosse! - e o homem, emancipado, esqueceu-se de que devia tudo à árvore. Os descendentes dos velhos dendrólatras tornaram-se arboricidas."
Júlio Dantas, "A Mãe Verde", in Contos, Lisboa: Sociedade Editora Portugal-Brasil, s.d., p. 151.
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