"Tu só, pobre animal, beijas o triste!
Tu que o rato devoras, e que os dentes
Tens afiados para quanto existe!
Caprichosa excepção! dize: Que sentes?
Amas, pobre animal? e tens tu pena,
Sim, pode na tua alma entrar piedade?
Se pode entrar eu sei! Negar quem há de
Amor ao tigre, coração à hiena!
Tudo no mundo sente: o ódio é prémio
Dos condenados só que esconde o inferno.
Tudo no mundo sente: a mão do Eterno
A tudo deu irmão, deu par, deu gémeo.
A mim deu-me esta gata, a mim deu-me isto...
Esta fera, que as unhas encolhendo
Pelos ombros me trepa e vem, correndo,
Beijar-me... Só não vivo! amado existo!"
João de Deus, Campo de Flores, 6ª ed., Lisboa: Companhia Editora Portugal-Brasil, s.d., p. 240.
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